domingo, outubro 31, 2010

transbordar

de mim em qualquer coisa que me toque até às lágrimas. É à minha mocidade que regresso no teu olhar; essa arte tão antiga que tu tens de me punir pela extravagância de sorrir.

se nunca me tivesses amado, seria livre de querer estar, ou ficar, ou partir assim : sofro de nada.

segunda-feira, outubro 25, 2010

a conversa de mim contigo

...uma autêntica alegria a perder-se como no mar, a mais límpida gota de água. No país claro, o homem no seu território deve albergar os desprotegidos... mulheres.

volto sempre ao amor; tudo foi prolongado até ao limite do ser. Queria sorrir de triunfo e punir as entranhas que ainda acreditam que, não me sabem de cor, os seres que me exigem.

o meu romance preferido anda pobre : deram-me um papel de segunda categoria!

a cidade do país chama-se vivida... Eu reajo a este vivo ser que vive comigo.

sexta-feira, outubro 22, 2010

na solidão

de mim, tenho um distanciamento de deus frente ao incidente. A cidade a meus pés na minha cabeça.

a mesma melodia.

quero brincar, não sou inocente; fascino-me ...todas as fantasias de todos os anos:

- lembras-te!?

este país exulta-me as veias : espaço de sol.

hoje vou fazer uma extravagância aliás, faço isso todos os dias. Engrandecer o quotidiano, entre deus e o diabo à procura do sublime

...assumir o destino!


domingo, outubro 17, 2010

sou aquela

que é : capricho de sucessivas morais. Um homem perturba imensamente, ter os olhos frios como diamante e a pele lisa ficando eu com um ar de pérola tratada, essa ideia de morte sem exaltação.

de uma forma resignada sofro a ausência. Estar viva a queimar momentos de espera ...a não perturbar, incomodar ou espalhar este rubro estar; num abstracto tempo ao acaso e, enquanto se cria espaço.

(palavras que levam a outras, contínua e anestesiante passividade dos dias) Eu sou o ser abstracto que comigo se cruza tu és a moléstia que por mim cresce.

sexta-feira, outubro 15, 2010

a casa

repousa agora com vontade de ficar tranquila. De aqui até à morte há gente que só sabe andar em frente : providencialmente; bebendo vinho branco em copos de pé alto.

o espaço por onde passeio no desespero do repouso : grassa.

dentro de casa, de longe ...chega a certeza de ter dormido em teus braços.

estranho!

um dia

...gritava em casa - em silêncio; de punhos cerrados.

quinta-feira, outubro 14, 2010

a cidade

...não é como a sonhei! queria voar para cima da catedral. Já há muito que a realidade deixou de me interessar : disciplina de pássaro.

explico-te o azul da noite e a esquerda no poder, os socialistas nos bares. A festa ainda vive na cidade.

da vida ficará o gesto; desencantamento. A procura é vertical.

tudo pode começar outra vez até à exaustão "dejá vu" ou lima limão.

talvez o provocasse, somos todos gente afinal ... os pássaros cortam o céu.

as estrelas brilham em feridas.

quarta-feira, outubro 13, 2010

palavras ...

são silêncios fatais de fado. Fascinante! ...pensava ela feita cidade, corpo de mito que se movimenta e dança. Tenho a paixão dentro de mim, um desejo surdo e maligno do teu corpo. Quero saber como é a curva das tuas costas, conhecer o gosto da tua saliva, saber a morte que te habita, enterrar o nariz nos teus cabelos, olhar-te nos olhos e sabê-los de cor.

toca-lhe ou ensaia a festa nos cabelos de vento; fique bem clara a ideia do corpo soberano, personagem da cidade feita gente. Gosto do teatro : ela, mulher confusa e nascente a amar um homem.

a casa enche-se dos dois, palavras voam no tecto. A revolução, a fantasia e o perigo.

o corpo sonhado!

domingo, outubro 10, 2010

o tempo mudou

e; ouvem-se os beatles, lêem-se livros proibidos, fala-se da guerra e da revolução. Fala-se de amor... mini-saia, "venham mais cinco..." cabelos compridos, calças de ganga wrangler e já ela tem vinte anos bela e louca por entre os cravos tudo vai ser agora fogo eterno no vento a assobiar slogans a um que bebia gin e outro que bebia whisky assim sendo : leram-se todos os livros vindos de frança e descobriu-se mulher na outra iniciação a efervescer a pálida cidade.

É uma alegria ligeira um som de acordeão um copo de vinho novo e um queijo fresco ah! ...a cidade é adolescente pela primeira vez é um delírio branco à beira mar ela é um ser alado, olhos em brasa, angustiada, dividida, fragilizada, apaixonada.

sábado, outubro 09, 2010

a menina

senta-se a medo na carteira da escola, senta-se na pontinha do banco da carteira está sentada e fita a régua na mão da professora. A professora tem aquele jeito ...de a ter sempre à mão!

...a régua de um só buraco e uma longa faixa amarela com centímetros, vivo cinquenta centímetros da tua mão à minha palma se me bates : fica o redondo do buraco a lembrar a dor.

abrem-se os livros de imagens cândidas, cores desbotadas da vida campestre e canteiros de rosas pálidas e imagens de santinhos e virgens.

tomar gosto por bordados, os lavores, o sonho da casa, um marido de camisa branca com as mangas arregaçadas e uma enxada em riste.

deixa que o vento acaricie os teus cabelos criança do tempo descuidado.

quinta-feira, outubro 07, 2010

devagarinho

a menina deixa o vento acariciar-lhe os cabelos tem um vestido de popeline às flores leva na mão a pasta da escola. As escolas eram todas iguais... dantes!

brancas, com o escudo nacional, parque de recreio e uma estrada para raparigas e uma estrada para rapazes.

a professora de bata branca, imaculada. Tal um médico; pelos ombros uma blusa de malha, colar de pérolas.

por altura da quarta classe já as raparigas olhavam para as miúdas do liceu, com batas de outra cor, eram as "caixinhas de pó de arroz".